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Perspectivas da economia mundial e impactos sobre o Brasil

Movimento sindical deve ser prudente, manter-se informado e preparar-se para os desdobramentos do cenário internacional

O ano de 2014 será profundamente atípico no Brasil: teremos um carnaval tardio (em março), a realização da Copa do Mundo da FIFA (em junho) e o processo de eleições majoritárias (entre setembro e outubro). Tudo isso, é claro, entremeado de uma expectativa de retomada dos protestos de rua e muita efervescência social. Diante deste “calendário”, é bastante razoável supor que a capacidade de proposição de políticas públicas será afetada e que a condução da política econômica será conservadora, com grande esforço na contenção das tendências inflacionárias, com elevação das taxas de juros e pouco arrojo nos incentivos fiscais.

Sendo assim, o resultado da economia brasileira, em 2014, dependerá basicamente da influencia dos movimentos da economia mundial e das respostas do país diante destes. Este diagnóstico torna imperativo que o movimento sindical fique atento às perspectivas da economia global.

Como faz todos os anos, o FMI apresentou o seu documento “Perspectivas Econômicas Mundiais” para os próximos anos no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. O cenário geral apresentado é de um crescimento, em 2014 e 2015, maior do que o registrado em 2013. As estimativas são de 3,7% e 3,9%, respectivamente. Crescimento que será puxado pelas economias avançadas, em especial os EUA. O próprio documento, entretanto, reconhece fragilidades na economia internacional, em especial quanto à recuperação europeia e ao crescimento dos mercados emergentes, que podem ter que enfrentar turbulências financeiras advindas de quedas de preços internacionais de commodities e, especialmente, pela mudança da política monetária nos EUA, onde o progressivo fim da política de incentivos monetários e eventual aumento das taxas de juros domésticas podem levar a fortes flutuações e desvalorizações das moedas dos países emergentes, fugas de capital, e encurtamento do crédito, com desestabilização econômica e social e eventuais efeitos inflacionários.

Na América Latina, no final do mês de janeiro, a economia argentina sofreu a pior desvalorização do peso desde a crise de 2002. Em um só dia a moeda caiu mais de 11%. A cotação oficial do dólar chegou a 8 pesos e alcançou 13 no mercado paralelo. Além do alto grau de endividamento externo, o país vem sofrendo pressão inflacionária nos últimos 7 anos. Em 2013, a inflação oficial registrou 10,9%, mas algumas consultorias econômicas apontaram índices que chegaram a 28%. No ano passado o peso argentino desvalorizou 24,23% e o país tem utilizado paulatinamente (e com pouco sucesso) suas reservas em dólares para tentar impedir a desvalorização mais intensa de sua moeda.
A redução do crescimento da economia chinesa (importadora de commodities primárias) e as recentes decisões na política monetária norte-americana levaram à diminuição no preço das commodities e à volatilidade das divisas especulativas, que procuravam sua valorização nas altas taxas de juros da América Latina. Como consequência, a crise cambial na Argentina se intensificou.

Na tentativa de frear a crise cambial, o governo argentino vem implantando algumas medidas para buscar proteger sua moeda e tem limitado cada vez mais a compra de produtos importados, o que afeta diretamente o Brasil.

Pode-se depreender, portanto, que as perspectivas da economia mundial, em 2014, impõem uma série de dificuldades à economia brasileira. Por um lado, a recuperação das economias centrais tende a escassear a disponibilidade de poupança externa, uma vez que os investidores, tanto especulativos quando produtivos, passam a ter opções de menor risco para a aplicação de seu capital. Por outro lado, a crise cambial argentina e seus reflexos regionais no Mercosul, tendem a reduzir a capacidade de exportação regional do Brasil. Em janeiro, as exportações em direção ao Mercosul caíram 6,2% e, para a Argentina a queda chegou a 13,7%.

Ainda em janeiro, a balança comercial brasileira alcançou o maior déficit da história, de US$ 4,057 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O mau desempenho das contas externas no país leva a crer que, em 2014, o Brasil continuará forçando a desvalorização do Real que já se desvalorizou 12,96% em 2013. Este movimento deve ajudar a atenuar a situação crítica das contas externas e ajuda a tornar mais competitivos os produtos nacionais. Entretanto, a desvalorização da moeda tem como efeito imediato a pressão inflacionária. Num ano eleitoral, com pouca margem para cartilhas “criativas” no combate ao aumento dos preços, é quase certo que a inflação será controlada com aperto monetário, que por sua vez deve prejudicar a taxa de investimentos, de modo que, mantidas as atuais circunstâncias, a economia nacional deverá amargar novamente um baixo crescimento do produto agregado.

Embora, a primeira vista, possa não parecer, esta conjuntura internacional afeta diretamente o trabalhador brasileiro. A piora das relações comerciais do país, pode acelerar o ritmo de desvalorização do Real, tornando os produtos importados mais caros e, portanto, reduzindo a capacidade de compra dos salários. Por outro lado, a depender do modo como o combate a este aumento de preços, de pressão internacional, for organizado, é possível que a disponibilidade de empregos venha a cair.
Nada é certo, contudo, o movimento sindical deve ser prudente, manter-se informado e preparar-se para os desdobramentos do cenário internacional.

LUIZ FERNANDO ALVES ROSA
Economista / Técnico DIEESE
Subseção Federação da Saúde SP

 
 
Sindicato da Saúde Jaú e Região
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