São Paulo prepara uma ação de longo prazo para proteger a população contra novos surtos de febre amarela. A iniciativa deve estender de forma gradativa a vacinação para todo Estado, incluindo regiões classificadas atualmente como livres de risco para a doença, como Campinas e São Paulo.
Em entrevista, o coordenador de Controle de Doenças da Secretaria Estadual de Saúde, Marcos Boulos, afirmou que neste momento a prioridade é garantir que moradores de em áreas de risco, sobretudo na fronteira com Minas Gerais, estejam protegidos contra a doença.
Terminado o surto no País - algo que, em sua avaliação, deve ocorrer nos próximos dois meses -, a proposta é deflagrar uma ação para aumentar ao máximo a parcela da população paulista com imunidade contra a doença.
"A febre amarela está chegando a todos os lugares. Não dá para apostar que ela não vá aparecer em áreas do Estado que hoje são consideradas livres de risco", disse o coordenador.
O infectologista contou que houve um aumento expressivo de casos de mortes de macacos em São Paulo, um indicador de aumento de risco de circulação do vírus de febre amarela. "Já há epizootias em regiões próximas da capital. Não isolamos o vírus da febre amarela. Mas é uma questão de oportunidade."
Diante desse quadro, duas ações estão em curso na secretaria: a de oferecer a proteção imediata para pessoas que estão em maior risco e a de se criar uma estratégia de como ampliar a parcela da população protegida a médio prazo.
Uma série de reuniões entre integrantes da secretaria e especialistas na doença foi realizada. Neste momento, estão sendo mapeadas as regiões em que vivem macacos, onde há um número significativo de vetores da forma silvestre da doença. A partir da análise desses dados, um cronograma e um mapa para as áreas de vacinação serão traçados, a partir de critérios de prioridade.
"Vamos fazer com calma. Não há condições, nem mesmo necessidade, de se fazer tudo de uma vez."
Mudança
A opinião de Boulos sobre a vacinação contra febre amarela mudou. Até alguns anos, o coordenador, professor da Universidade de São Paulo (USP) e especializado em doenças tropicais, era contra a ampliação das áreas de vacinação.
"Sempre fui contra, pelos riscos vacinais. Mas a febre amarela está chegando muito perto", disse.
A estimativa é de que 20 milhões de pessoas que vivem no Estado de São Paulo não estejam protegidas contra a doença. Boulos contou que o plano prevê a inclusão da vacina para crianças. Para ele, é essa a estratégia mais garantida de se garantir um aumento da população imunizada a médio prazo.
"A experiência mostra o quanto é difícil convencer a população adulta a tomar vacina", justificou.
Boulos estima que a nova política de vacinação deva começar já a partir do próximo semestre. Além de um cronograma sobre quais seriam as primeiras áreas a serem contempladas por essa ação, técnicos de imunização da secretaria avaliam uma eventual mudança da recomendação da faixa etária.
Áreas de risco
Nas áreas de risco, a vacina é recomendada para crianças de 9 meses e 4 anos. "Mas será que essa recomendação também deve valer para áreas que hoje não são de risco? Para estratégia de se criar uma população com maior proteção, talvez possamos retardar essa vacinação nas crianças. É uma discussão técnica, que ainda não teve uma conclusão."
Se confirmada a previsão de Boulos, São Paulo será o primeiro Estado a incluir a vacina contra febre amarela no calendário de imunização infantil do País independentemente de a criança viver em área de risco.
O Estado também adota uma estratégia distinta do restante do Brasil sobre as doses. O governo paulista segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica apenas uma dose da vacina para toda a vida. O Ministério da Saúde recomenda a aplicação de duas doses na população adulta, com intervalo de dez anos.