Em tempos de desemprego alto, em que 5,2 milhões de desempregados procuram emprego há mais de um ano (38,9% dos desocupados do país), segundo o IBGE, candidatos chegam ao desespero por uma vaga. Mas a longa espera por uma recontratação que parece cada vez mais difícil pode ter razões que, se identificadas e trabalhadas pelo candidato, podem fazer com que o caminho para a volta ao mercado fique mais curto.
Quem garante é o especialista em gestão de pessoas e palestrante Paulo Vieira, autor de obras como “O Poder da Ação” e “Poder e Alta Performance”.
Vieira considera que sempre haverá desemprego não só no Brasil, mas em todo o mundo. A questão que deve ser analisada é a causa de a pessoa estar desempregada. Ele aconselha o candidato a se questionar sobre as razões, que em sua visão são três:
A pessoa não tem o currículo adequado nem os conhecimentos necessários para a vaga
A pessoa tem o currículo adequado e os conhecimentos necessários, mas não sabe mostrar isso no processo de seleção
A pessoa não tem inteligência emocional nem as crenças adequadas sobre ela mesma
“A partir daí, onde essa pessoa precisa trabalhar urgentemente? No currículo? Nos cursos necessários que tragam empregabilidade? Ou o problema está nas suas emoções? Seja qual for o caminho, tem solução”, explica.
Para os candidatos que estão desanimados com tantas negativas na busca do emprego, Vieira diz que a única explicação é que há concorrentes melhores conseguindo a vaga. E, segundo ele, o mercado é uma competição como um jogo, uma corrida, não vão chegar todos, e sempre faltará vaga para todo mundo – ainda que, com a economia em crise, faltem vagas para muito mais candidatos.
“Se eu não consigo me colocar fazendo tudo certo é porque tem pessoas melhores que eu, então eu tenho que melhorar minha empregabilidade, minhas habilidades, a minha estrutura emocional, o meu saber”, comenta.
O coach afirma que o candidato deve olhar para si e se perguntar o que tem de fazer para sair da categoria de desempregado e se destacar entre tantos outros como ele.
“Não adianta você querer correr mais que o desemprego, porque desemprego sempre vai existir, você tem que correr mais que as pessoas que competem com você por aquela vaga, você tem que ser melhor do que eles na parte técnica, funcional, cognitiva e emocional”, diz.
Currículo e empregabilidade
Viera diz que o candidato deve sempre adequar o currículo às vagas às quais ele concorre e estar atento às exigências do mercado de trabalho em relação aos requisitos para os cargos.
“Se não consegue montar o currículo adequado busque orientação especializada. Mas o candidato precisa buscar informações do que aquela vaga exige, ou seja, o que ele precisa saber e conhecer para concorrer para aquela função. Isso é aprimorar o currículo. E como se faz isso? Precisa cursar 6 meses de inglês? Precisa fazer um curso técnico? A questão é: o que fazer para trazer mais empregabilidade?”, analisa.
O coach sugere ainda pedir orientação ao final da entrevista de emprego. “Pergunte ao final de todas as entrevistas o que é preciso para melhorar a sua empregabilidade. Isso mostra que você quer crescer, aprender e dá um caminho do que de fato você precisa para atender à demanda de cada empresa. Anota tudo e seis meses depois volta com o currículo adequado e pronto para a entrevista. Aí você terá mais chances de ser contratado”, explica.
Inteligência emocional
Viera ressalta que, além de melhorar currículo e aprender sempre para desempenhar melhor as funções, é preciso ter um olhar atento às emoções.
Segundo ele, autocontrole, ousadia, superação, liderança, transparência e liberdade são fundamentos da inteligência emocional. “Isso não estará no currículo, mas vai estar na entrevista, na dinâmica, na sua maneira de trabalhar, na maneira de se relacionar consigo e com as outras pessoas”, afirma.
O especialista em gestão de pessoas explica grande parte dos problemas como desemprego, concorrência exagerada, violência, crise econômica, problemas familiares, conjugais e financeiros, além de todos os aprendizados disfuncionais durante a vida levam a problemas emocionais, gerando medo, insegurança, apatia, arrogância e vaidade.
E candidatos emocionalmente seguros e estáveis se saem melhor nas entrevistas e dinâmicas de grupo. Além disso, segundo ele, pessoas simples, humildes e verdadeiras levam sempre vantagem sobre aquelas que são arrogantes ou tentam ostentar uma imagem que não têm.
Questionado sobre a importância do marketing pessoal, Vieira diz que há as pessoas que sabem se vender, mas se não tiverem o conteúdo que anunciam não se manterão no emprego. “A embalagem é boa, mas o conteúdo tem que ser bom, tanto em termos técnicos como emocionais, então muitas pessoas até entram, mas não ficam muito tempo no trabalho”, afirma.
Outra questão são as crenças que limitam o desenvolvimento das pessoas. De acordo com Vieira, muitas vezes o candidato tem um nível de empregabilidade e um currículo bom, mas tem uma crença de não merecimento da vaga. Assim, ele passa a se autossabotar nos processos seletivos.
“Chega atrasado, passa mal, não vai bem na entrevista, não se sai bem na dinâmica. Mesmo tendo a empregabilidade, faz um currículo que não mostra toda sua competência. É uma questão emocional”, explica.
O coach explica que crenças são programações mentais adquiridas como aprendizados durante a vida que acabam determinando conceitos, comportamentos, atitudes, resultados, conquistas e formas de vida das pessoas. Essas programações mentais são registradas por meio de conexões ou sinapses neurais formadas a partir das experiências sensoriais vivenciadas pelas pessoas no dia a dia, principalmente na infância. Assim, para ele, o sucesso ou o fracasso decorrem dessas crenças ou programações mentais.
Paulo Viera cita ainda casos de pessoas que têm problemas com suas crenças de capacidade. “São pessoas tecnicamente corretas, adequadas, produtivas, mas a crença delas de capacidade é muito baixa. E por isso elas sempre se sentem inseguras. Elas tremem na hora do desafio profissional ou da entrevista de emprego porque não acreditam nelas mesmas. É outra crença disfuncional que gera um problema emocional”, explica.
Vieira defende que é possível que essas pessoas busquem a cura emocional fazendo a reprogramação das conexões neurais, das programações profundas, e a partir daí mudar comportamentos e atitudes para terem capacidade de tomar decisões e se sentirem mais confiantes, restaurando as crenças positivas. “Quando se fala de crenças neurais, de sinapses neurais, ocorrem mudanças muito profundas”, diz.
O que mais prejudica o candidato na hora de procurar emprego
- Emoções vindas da falta de inteligência emocional
- Desânimo, arrogância, apatia, vaidade são exemplos de falta de inteligência emocional, que é o maior inimigo do candidato na hora da entrevista e da dinâmica
- O que mais beneficia o candidato na hora de procurar emprego
Currículo adequado à função e que traga a solução que a empresa precisa para aquela vaga
Emoções adequadas no processo de seleção como autoconfiança, transparência, humildade e superação – componentes da inteligência emocional importantes para quem participa de um processo de seleção
Empreendedorismo
Viera prevê que cada vez mais os empregos vão diminuir e as pessoas se tornarão empreendedores, profissionais liberais e prestadores de serviços. “Com a flexibilização das leis trabalhistas, os profissionais cada vez mais terão jornadas flexíveis e deixarão de ser CLT para serem pessoas jurídicas”, afirma.
Por isso, ele aconselha os profissionais em busca de trabalho a pensar seriamente em abrir o próprio negócio. “Se está difícil o mercado de trabalho, empreenda, mas aprenda primeiro buscando conhecimentos em cursos de negócios e vendas, por exemplo. Você não precisa ser um condenado a procurar emprego”.
Para isso, ele aconselha o profissional a fazer uma autoavaliação sobre o que ele sabe fazer, quais seus dons e talentos, e buscar oferecer algo extraordinário e disruptivo, sempre levando em conta que o que ele vai oferecer será uma solução para um problema.
“O negócio surge quando você detecta um problema e vende uma solução para esse problema. É perguntar para um grupo do que ele precisa e não está sendo atendido, aí então vê a chance de empreender. Ninguém precisa depender de desemprego. Tem que depender de si mesmo, de sua criatividade, do seu empenho, do seu trabalho, da sua inteligência”.
Segundo ele, o maior erro quando alguém entra no empreendedorismo é a autossuficiência. O profissional quer fazer tudo do jeito que acha certo, achando que não precisa de ajuda nem quer depender de ninguém. “Quer fazer tudo do seu jeito e obviamente quebra a cara”, alerta.
Vieira diz que quem quer entrar no empreendedorismo precisa de pelo menos 6 horas por dia durante 6 meses para aprender, buscando conhecimentos em livros, blogs, vídeos e cursos, entre outros recursos. Segundo ele, o problema não é empreender, é aprender a empreender.
“As pessoas quebram porque tomam decisões erradas, fazem errado porque não aprenderam a fazer certo, não sabem fazer porque não buscaram orientações adequadas para o que precisavam”, conclui.
Veja as dicas do coach:
- Procure informações de quem empreende e se deu bem
- Estude para poder fazer bem feito
- Não dá para fazer sem ter orientação
- Todo mundo vai errar como empreendedor, mas quanto mais informações, menores serão os erros
Fonte: G1