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A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou sintomas de fadiga e ansiedade como sequelas de pessoas curadas do novo coronavÃrus. De acordo com a instituição, os sintomas começaram a ser notados há um mês, através de visitas feitas por equipes de unidades de Atenção Primária em Saúde (APS) aos pacientes com alta médica.Â
Segundo a prefeitura, na Rede Municipal de Saúde, "um pequeno número de pacientes" já busca assistência para os sintomas sentidos após a cura da doença e há a expectativa de que a demanda aumente.
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De acordo com o docente do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Rubens Bedrikow, há pacientes que relatam que sentem os sintomas de sequelas até um mês após a cura da Covid-19.
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"São pessoas com cansaço intenso, dores nas pernas e quadris - sintomas que não tinham antes da doença. [...] Em outros casos, ouvi relatos de insônia e pavor de morrer, que podem ser associados à ansiedade, porque existe uma sequela psÃquica na pessoa que ficou em internação prolongada e isolada, em solidão, sabendo de pessoas morrendo nas enfermarias. [...] O paciente sai de alta e parece que está tudo resolvido, mas não está", diz.
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O docente explica que os sintomas relatados pelos pacientes às equipes da Atenção Primária estão ligados, até o momento, a sequelas que incidem no coração, nos pulmões e nos rins.
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Perfil e desafios
Bedrikow pontua que ainda não é possÃvel precisar a faixa etária mais acometida por estas sequelas, mas há casos de pessoas com idades entre 40 e 50 anos, de ambos os gêneros. A permanência ou reversão dos sintomas tende a variar de caso para caso, mas também ainda não existem estudos que permitam definir o comportamento.
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"É tudo muito novo, não dá para entender a situação como tudo ou nada. Se eu tenho um paciente com uma sequela pulmonar, ele pode melhorar bastante, mas eu não posso prometer que ele vai voltar a ter o condicionamento que tinha antes. [...] O mais importante é que as pessoas tenham acesso a tratamentos. Serviços de reabilitação pulmonar, psicológicos, entre outros", reforça.
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De acordo com o professor, as dificuldades encontradas pelas equipes para tratar os pacientes que têm apresentado sequelas do coronavÃrus são três: o reconhecimento, por parte da administração municipal, de que a situação existe, a capacitação dos profissionais e a formação de equipes multidisciplinares.
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"É preciso reconhecer que os cuidados não se encerram quando o paciente que teve Covid-19 sai do hospital. Também é preciso capacitar os profissionais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), porque eles receberão uma demanda extra. E formar equipes com diversos agentes da saúde, porque os cuidados não envolvem apenas médicos", explica.
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O que diz a prefeitura?
Em nota, a prefeitura informou que a Rede Municipal de Saúde de Campinas trabalha para estruturar o atendimento para pessoas que apresentem sequelas após a recuperação da Covid-19. "É esperado que os pacientes, após longa imobilização por intubação, apresentem enfraquecimento por perda de massa muscular e também, com frequência, problemas respiratórias e de deglutição", diz o texto.
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De acordo com a administração, as equipes dos Núcleos de Apoio à Saúde da FamÃlia (NASFs), que atuam com reabilitação, acompanham os casos que necessitam de atendimento especializado. Já os Centros de Saúde oferecem assistência ou orientações presenciais.
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Os pacientes mais debilitados, segundo o Executivo, estão sendo encaminhados para os serviços de referência de retaguarda, como ambulatórios próprios e conveniados, e para o Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD), quando é necessário atender em casa.
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A quantidade de pessoas que tiveram sequelas identificadas através das visitas da Atenção Primária em Saúde ou que procuraram atendimento nos postos de saúde não foi informada pelas equipes das APS e nem pela administração municipal.
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Fonte: G1
Foto: Antonio Scarpinetti