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Interessado em mostrar a investidores que o governo tem compromisso com o controle dos gastos públicos, o ministro Paulo Guedes (Economia) vem tratando como positiva a não aprovação do Orçamento deste ano pelo Congresso, o que impõe uma trava para as despesas do governo.Â
Com a limitação nas contas, a equipe econômica afirma não trabalhar com a possibilidade de fazer novos pagamentos do auxÃlio emergencial a trabalhadores informais afetados pela pandemia do novo coronavÃrus.
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Para auxiliares de Guedes, no momento, só é possÃvel discutir uma reformulação do programa Bolsa FamÃlia dentro do Orçamento já previsto para o ano.
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Mudanças mais amplas devem ser propostas após a eleição da cúpula do Congresso, marcada para o inÃcio de fevereiro. A pasta quer voltar a discutir a fusão de programas sociais existentes hoje, ideia que já foi alvo de veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
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Sem controle da crise sanitária e com a taxa de desemprego em alta, o fim do auxÃlio emergencial foi criticado por polÃticos e especialistas. Nas negociações para a sucessão do comando do Congresso, parlamentares pressionam pela aprovação de novas parcelas da assistência.
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As disputas polÃticas no Legislativo no ano passado travaram a tramitação do Orçamento de 2021, que ainda não foi aprovado. Com isso, a norma prevista na legislação limita os gastos discricionários dos ministérios --como custeio da máquina pública e investimentos-- a um doze avos do valor previsto para o ano. Pela regra, o governo não tem autorização para ampliar despesas, se desejar.
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Para Guedes e membros da pasta, o dispositivo obriga o Executivo a travar o cofres ao mesmo tempo em que força o Congresso a discutir o tema caso os parlamentares queiram implementar novas ações para enfrentar os efeitos da pandemia.
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Guedes retornou das férias nesta segunda-feira (8) e promoveu reuniões com subordinados. Segundo auxiliares, até que sejam retomados os trabalhos no Legislativo no próximo mês, a pasta deve se concentrar apenas em discussões internas para formatar o plano que será priorizado.
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Segundo fontes, janeiro será um mês de observação polÃtica, sem anúncio de medidas. A avaliação é que qualquer proposta apresentada agora será contaminada pela disputa à s presidências da Câmara e do Senado.
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Até a votação do projeto de Orçamento, a pasta deverá apresentar ainda um ajuste nas contas para que as despesas de 2021 fiquem dentro do teto de gastos. A alteração é necessária porque muitos desembolsos foram reajustados pela inflação acumulada em 2020, que se acelerou no fim do ano.
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Técnicos do Ministério da Economia ainda finalizam os cálculos, mas números preliminares indicam que o corte na programação de gastos possa ficar entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões.
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Essa redução pressiona ainda mais despesas discricionárias, que já estão menores que R$ 90 bilhões, patamar considerado baixo.
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De acordo com pessoas próximas a Guedes, a prioridade da pasta em 2021 será a geração de emprego e renda. A partir de fevereiro, a equipe econômica quer retomar as negociações para a criação de um imposto aos moldes da extinta CPMF para bancar um corte de encargos trabalhistas. A ideia sofre com rejeição de membros do governo e lideranças parlamentares.
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A carteira Verde e Amarela, que reduzia custos de contratação de funcionários jovens e que perdeu a validade sem votação do Congresso, pode ser relançada.
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Segundo membros da equipe econômica, 2021 não terá grandes inovações por parte da pasta. Isso porque uma série de medidas elaboradas pelo ministério e ainda defendidas por Guedes seguem pendentes de análise no Legislativo. A lista inclui o pacto federativo e a reforma administrativa.
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Na seleção de prioridades também está a chamada PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, que permite o acionamento de gatilhos de ajuste fiscal em momentos de aperto nas contas públicas, reduzindo especialmente gastos do governo com pessoal. A medida, que poderia abrir espaço para programas sociais ou investimentos em obras públicas, gerou embate no Congresso e foi engavetada após tentativas de desidratação do texto.
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Sem apoio dos parlamentares para aprovar essas propostas no ano passado, a equipe econômica vai insistir na necessidade de corte de despesas obrigatórias para abrir espaço no Orçamento, a ser usado na ampliação ou até mesmo reformulação do Bolsa FamÃlia.
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Mesmo com a perspectiva de um orçamento reforçado em 2021 (R$ 34,8 bilhões, ante R$ 32,5 bilhões em anos anteriores), o programa social não deve conseguir atender a todas as famÃlias que cairão na faixa de pobreza e extrema pobreza em razão da crise da Covid-19.
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Há uma proposta no governo para fazer mudanças internas no Bolsa FamÃlia (dentro do orçamento de R$ 34,8 bilhões), o que resultaria num aumento do benefÃcio médio de R$ 192 para R$ 200 por mês. Mas, com isso, menos famÃlias entrariam no programa.
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Já há cerca de 1,3 milhão de famÃlias habilitadas e que aguardam para passar a receber o benefÃcio. Entram na fila de espera famÃlias que já tiveram o pedido e dados analisados. Se as mudanças forem adotadas, ainda restarão mais de 1 milhão de famÃlias na fila. Por isso, técnicos dos ministérios da Economia e da Cidadania discutem se atender a mais pessoas carentes não seja mais eficiente.
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LINHA DO TEMPO
02 de abril de 2020
Bolsonaro sanciona auxÃlio emergencial de R$ 600 para trabalhadores informais, com duração de três meses
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11 de junho
Presidente diz que vai vetar eventual prorrogação do auxÃlio em valor de R$ 600. "Se pagar mais duas de R$ 600, vamos ter uma dÃvida cada vez mais impagável. É o veto"
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22 de junho
Bolsonaro reafirma que não pode manter auxÃlio em R$ 600. "Vai ser negociado com a Câmara, presidente da Câmara, presidente do Senado, um valor um pouco mais baixo e prorrogar por mais dois meses talvez a gente suporte, mas não o valor cheio de R$ 600"
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30 de junho
Governo anuncia mais duas parcelas de R$ 600
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05 de agosto
Presidente diz que não dá para seguir com o auxÃlio por muito tempo. "Não dá para continuar muito porque, por mês, custa R$ 50 bi. [...] Alguns estão defendendo o auxÃlio indefinido. Esses mesmos que quebraram os estados deles, esse mesmo governador que quebrou seu estado, está defendendo agora o [auxÃlio] emergencial de forma permanente. Só que, por mês, são R$ 50 bilhões. Vão arrebentar com a economia do Brasil"
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1º de setembro
Governo prorroga auxÃlio emergencial até dezembro, com mais quatro parcelas no valor de R$ 300
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10 de novembro
Guedes diz que auxÃlio pode voltar em 2021 caso haja nova onda de Covid. "Se uma segunda onda nos atingir, aà iremos aumentar mais [os gastos]. Em vez de 8% do PIB, provavelmente [usaremos] desta vez metade disso. Porque podemos filtrar os excessos e certamente usar valores menores"
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23 de novembro
Guedes afirma que economia está voltando e que auxÃlio acaba em dezembro. "A doença cedeu bastante e a economia voltou com muita força. Então, do ponto de vista do governo, não existe a prorrogação do auxÃlio emergencialâ€
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31 de dezembro
?Chega ao fim o pagamento do auxÃlio emergencial. Parlamentares e economistas pressionam por novos repasses
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Fonte: Folha de SP