A enfermeira Libia Bellusci, 37, sentiu na pele o que sentem muitos pacientes de covid-19 dos quais ela cuidou ao longo de um ano de pandemia, e ainda cuida. Ela foi infectada no ano passado pelo coronavírus e as sequelas da doença afetaram sua capacidade respiratória, forçando-a a deixar um de seus dois empregos. Recentemente, ela deixou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na cidade do Rio de Janeiro. E hoje trabalha apenas no Complexo Estadual Getúlio Vargas, mais precisamente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Penha, zona norte da capital fluminense.
Ao longo desse um ano na linha de frente da pandemia, ela lamentou o persistente negacionismo do presidente da República, Jair Bolsonaro. “Ele banaliza o lockdown e encoraja os brasileiros a fazerem o mesmo, dizendo que a pandemia é ‘mimimi’ e ‘frescura’. Infelizmente, dessa forma, as coisas podem piorar”, disse.
A percepção de Libia é fincada na realidade. Além de testemunhar a tragédia brasileira todos os dias, em janeiro, um estudo australiano considerou o Brasil o pior país do mundo na gestão da pandemia entre 98 nações.
Um ano de pandemia sem vacina
Além de encorajar aglomerações, desencorajar o uso de máscaras, dizer que a pandemia é uma “gripezinha”, Bolsonaro conseguiu bagunçar até mesmo aquele que era um dos grandes orgulhos nacionais: o Programa Nacional de Imunização (PNI), reconhecido mundialmente por sua eficiência.
Acontece que o atraso na vacinação complica ainda mais a situação dos trabalhadores da saúde. Nem todos eles foram imunizados contra a covid-19 no Rio de Janeiro, como explicou Libia. “Há muitos trabalhadores da saúde com medo de morrer. Há alguns em home care, hemodiálise e clínicas que não foram imunizados ainda”, lamentou.
Com poucas doses de vacina disponíveis, o Brasil permitiu o surgimento de um vírus para chamar de seu: o P1, que surgiu em Manaus. Mais resistente e transmissível, a nova variante mudou o perfil dos pacientes com covid-19, além de ter lotado as UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), levando os sistemas público e privado do Brasil à beira de um colapso sem precedentes na história do país.
A enfermeira Libia Bellusci, 37, sentiu na pele o que sentem muitos pacientes de covid-19 dos quais ela cuidou ao longo de um ano de pandemia, e ainda cuida. Ela foi infectada no ano passado pelo coronavírus e as sequelas da doença afetaram sua capacidade respiratória, forçando-a a deixar um de seus dois empregos. Recentemente, ela deixou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na cidade do Rio de Janeiro. E hoje trabalha apenas no Complexo Estadual Getúlio Vargas, mais precisamente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Penha, zona norte da capital fluminense.
Ao longo desse um ano na linha de frente da pandemia, ela lamentou o persistente negacionismo do presidente da República, Jair Bolsonaro. “Ele banaliza o lockdown e encoraja os brasileiros a fazerem o mesmo, dizendo que a pandemia é ‘mimimi’ e ‘frescura’. Infelizmente, dessa forma, as coisas podem piorar”, disse.
A percepção de Libia é fincada na realidade. Além de testemunhar a tragédia brasileira todos os dias, em janeiro, um estudo australiano considerou o Brasil o pior país do mundo na gestão da pandemia entre 98 nações.
Um ano de pandemia sem vacina
Além de encorajar aglomerações, desencorajar o uso de máscaras, dizer que a pandemia é uma “gripezinha”, Bolsonaro conseguiu bagunçar até mesmo aquele que era um dos grandes orgulhos nacionais: o Programa Nacional de Imunização (PNI), reconhecido mundialmente por sua eficiência.
Acontece que o atraso na vacinação complica ainda mais a situação dos trabalhadores da saúde. Nem todos eles foram imunizados contra a covid-19 no Rio de Janeiro, como explicou Libia. “Há muitos trabalhadores da saúde com medo de morrer. Há alguns em home care, hemodiálise e clínicas que não foram imunizados ainda”, lamentou.
Com poucas doses de vacina disponíveis, o Brasil permitiu o surgimento de um vírus para chamar de seu: o P1, que surgiu em Manaus. Mais resistente e transmissível, a nova variante mudou o perfil dos pacientes com covid-19, além de ter lotado as UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), levando os sistemas público e privado do Brasil à beira de um colapso sem precedentes na história do país.
“Hoje, percebemos que os pacientes são mais jovens – entre 25 e 50 anos – e com quadros mais graves também”, disse Libia.
Desumanização
Medo é o que frequentemente sente a auxiliar de enfermagem Juliana Karine Machado Rodrigues, do Hospital de Caridade São Vicente de Paula, em Jundiaí, interior de São Paulo. “Quando a pandemia começou, eu fiquei longe da minha casa por meses, distante da minha filha, por medo de infectá-la. A pandemia desumanizou a rotina de trabalho, não por culpa dos trabalhadores, mas por causa do medo que eles sentem”, apontou.
Recentemente, Juliana retornou de breves férias e, quando voltou ao trabalho, encontrou um cenário desolador. “Na minha primeira noite de trabalho, ocorreram 22 hospitalizações e quatro mortes por covid”, lamentou.
Heróis?
A pandemia também escancarou as desigualdades sociais no Brasil e com o setor de saúde não foi diferente. A crise sanitária levou os trabalhadores à completa exaustão, não somente como consequência da pandemia, mas também porque muitos deles são forçados a ter dois trabalhos para melhorar seus salários.
“A média salarial de uma técnica em enfermagem aqui, em Belo Horizonte (Minas Gerais), é R$ 1.400 brutos. Isso significa que muitos terminam por trabalhar em dois, às vezes três lugares diferentes para ganhar mais”, disse a técnica em enfermagem Flavia Tatiana da Silva, 39, que trabalha no Hospital Baleia, na capital mineira.
Trabalhadoras como Flavia não deveriam ter múltiplos empregos para sobreviver. A prática de trabalhar desse modo fragiliza profissionais e pacientes, aumentando ainda mais os riscos de infecção. Um trabalho e um salário deveriam ser o bastante.
A péssima gestão da pandemia pelo governo Bolsonaro tem sido desastrosa – até mesmo criminosa. E os trabalhadores – particularmente da área de cuidados – tem um grande papel a desempenhar para ajudar a parar a propagação do vírus.
Ingerência
Isso inclui o pagamento de um salário-mínimo decente. Significa garantir que as trabalhadoras e trabalhadores tenham Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Significa disponibilizar-lhes vacinas e testes rápidos. Os trabalhadores devem receber treinamento em doenças infecciosas e licença-médica remunerada. Mais importante ainda, eles devem ter sindicatos fortes.
Por essa razão, a Rede Sindical Brasileira UNISaúde, liderada pela UNI Americas, braço latino-americano da UNI Global Union, entregou uma denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda, por crimes de genocídio e contra a humanidade, com o intuito de responsabilizá-lo por sua omissão e ações deliberadas que colocam em risco os profissionais de saúde e a população brasileira como um todo.
Além disso, a UNI Global Union, que representa 2 milhões de trabalhadores da saúde no mundo, incluindo o Brasil, lançou diretrizes abrangentes para o trabalho seguro na área da saúde. Infelizmente, um ano após o início da pandemia, os profissionais de saúde do Brasil dizem que os governos – nas esferas federal, estadual e municipal – e empregadores do setor privado não aprenderam as lições.
Por isso, Flávia fez um apelo: “A covid é uma doença devastadora e perigosa. As pessoas não sabem o que está acontecendo e só quando perdem alguém é que se dão conta”.
Então, é tarde demais.
As personagens citadas no texto, além de atuar na linha de frente do combate à pandemia, são representantes sindicais dos profissionais do setor. Líbia Bellusci é diretora do Sindicato dos Enfermeiros do Rio de Janeiro (Sindenf-RJ); Flávia Tatiana da Silva, do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviço de Saúde de Belo Horizonte, Caeté, Sabará e Vespaziano (Sindeess); e Juliana Karine Machado Rodrigues, vice-presidente do SindSaúde Campinas e Região.
Rede Brasil Atual