
Â
O vai e vem da notÃcia de que o AuxÃlio Brasil terá o valor de R$ 400 e que parte desse montante extrapola o teto de gastos não caiu bem no mercado financeiro, afirmam analistas ouvidos pelo CNN Brasil Business. A ideia é que o projeto seja o novo programa social do governo federal e substitua o auxÃlio emergencial e o Bolsa FamÃlia.Â
Em um dia em que as principais bolsas do mundo subiram, o Ibovespa, Ãndice de referência da bolsa paulista, caiu 3,3%. Já o real descolou das outras moedas e viu o dólar subir 1,35% e fechar encostado nos R$ 5,60.
Â
A rodada de 2021 do auxÃlio emergencial acaba neste mês, e o governo tem até o fim deste ano para criar novos programas sociais – já que é proibido criá-los em ano eleitoral.
Â
O anúncio oficial foi cancelado no fim do dia após ter sido vazado pela imprensa nesta terça-feira. A notÃcia bastou para desagradar o mercado financeiro. Primeiro porque o valor divulgado é maior que os R$ 300 discutidos inicialmente. Segundo que a esticada no benefÃcio não cabe inteiramente no teto de gastos, regra que controla as despesas do governo e que, para 2022, já estão no limite.
Â
A verba para bancá-lo dependia de recursos que viriam primeiro da reforma do imposto de renda, que travou no Congresso, e, agora, da PEC dos Precatórios, que também teve a votação adiada nesta mesma terça-feira em sua comissão especial da Câmara.
Â
Mas, mais do que isso, o que pesou para os agentes financeiros na sua decisão de retirar seu dinheiro de ativos brasileiros nesta terça-feira foram, segundo analistas, a desorganização e a falta de coordenação e compromisso com que o governo tem tentado emplacar a qualquer custo o novo programa.
Â
A questão não é tanto sobre o quanto a expansão do programa extrapola o teto – para alguns, financiar um Bolsa FamÃlia mais amplo fora do limite fiscal em um momento de fragilidade social até poderia ser discutÃvel.
Â
A preocupação é que o movimento, como foi feito, cristaliza o descompromisso do governo com qualquer controle das despesas e fica difÃcil saber qual pode ser o próximo aumento de gasto.
Â
“O problema não são nem os R$ 400â€, diz o economista-chefe da Neo Investimentos, Luciano Sobral. “Se soubéssemos que a exceção ao teto seria R$ 100, o mercado faria a conta, concluiria que são R$ 20 bilhões ou R$ 30 bilhões a mais [no ano], o que não têm grande peso no PIB, e saberia de quanto estamos falando. O problema é o jeito como está sendo conduzido, e a percepção de que pode entrar mais coisaâ€, completa.
Â
Uma das principais preocupações de economistas com uma abertura da porteira para o rompimento do teto está nas emendas parlamentares, que são verbas do Orçamento pleiteadas pelos congressistas e que disputam o mesmo espaço no teto com as demais despesas.
Â
Com parte dos gastos retirados da conta do teto em 2022, as emendas, em pleno ano eleitoral, voltam a ganhar espaço para crescer dentro dele e aumentam os desembolsos e a dÃvida total da máquina pública da mesma maneira.
Â
“O problema não é aumentar o gasto social no pós-pandemia, em um paÃs desigual como o Brasil, depois de um ano em que a inflação comeu 10% do poder de compraâ€, diz Sobral. “A questão é isso ser feito sem compensação nenhuma, e ter se perdido totalmente o constrangimento em fazê-loâ€, completa.
Â
“O problema não é a falta de dinheiro, é a falta de planoâ€, disse o economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito. “Ficam esses ruÃdos e isso gera o sentimento de que falta coordenação dos temas, o que eleva a incerteza, os prêmios de risco, o dólar, os juros. O custo acaba subindo não pelo fato em si, mas pela descoordenação em fazer as coisas andarem.â€
Â
Derrota do ministério da Economia
Para Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da RPS Capital e especialista em contas públicas, há brechas de gastos a serem reduzidos ou remanejados que permitiriam viabilizar o novo benefÃcio de R$ 300 ou mesmo de R$ 400 sem precisar fugir do teto para isso – “Por que não acaba com as emendas do relator? Por que o governo não trabalha para aprovar a reforma administrativa?â€, diz.
Â
Foi a clareza de que o esforço por essa via acabou abandonado que desabou sobre os mercados nesta terça-feira.
Â
“Do jeito que a notÃcia chegou, a mensagem que fica é uma destruição do teto de gastos, estão de fato abrindo mão da âncora fiscal, o que é um cavalo de pau em relação ao que vinha sendo sinalizadoâ€, disse Barros.
Â
“O ministério da Economia vinha tentando evitar furos no teto, mas hoje ele foi derrotado. Bolsonaro decidiu que vai haver um auxÃlio e o que agora estão tentando fazer é evitar que o buraco no teto não seja tão grandeâ€, completa.
Â
Fonte: CNN