
Â
O programa Médicos pelo Brasil, criado por Jair Bolsonaro há quase dois anos sob a promessa de substituir o Mais Médicos, do governo Dilma Rousseff (PT), nunca saiu do papel. Lançado em 1º de agosto de 2019 e instituÃdo oficialmente pela Lei 13.958, de 18 de dezembro daquele ano, o programa de Bolsonaro nunca teve um edital de chamamento de profissionais de saúde.Â
O objetivo de ambos os programas, conforme descrito em lei, era o reforço da atenção primária de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) em municÃpios pequenos e remotos e em locais de vulnerabilidade.
Â
O governo Bolsonaro jamais especificou tecnicamente em quais aspectos desejavam reformar o Mais Médicos, para além da criação de uma pessoa jurÃdica de direito privado que funcionaria como intermediário entre o Estado e os profissionais – a Agência para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde (Adaps).
Â
Segundo o Ministério, em vÃdeo divulgado à época, o programa seria “mais atrativo para os médicos, que agora terão carteira assinada, FGTS, férias e 13º.†A relação entre as Adaps e o governo federal só foi regulamentada no último dia 15 de outubro.
Â
Conforme resposta obtida pela reportagem via Lei de Acesso à Informação (LAI) na última quarta-feira (20), o Médicos pelo Brasil “ainda está em processo de implementação e, assim, até o momento, não houve edital de chamamento vinculado a este projeto.â€
Â
A informação foi enviada pela Coordenação-Geral de Provisão de Profissionais para Atenção Primária (CGPROP). A pasta esclareceu ainda que “o chamamento público para adesão de médicos que está sob vigência é regido pela Lei Nº 12.871, de 22 de outubro de 2013, que institui o Programa Mais Médicos.â€
Â
Atualmente, o Mais Médicos possui 15.839 profissionais em atividade em 4.164 municÃpios. Ou seja, Bolsonaro apresentou um nome e um logotipo novo, mas o programa nunca foi colocado em prática, mesmo na pandemia.
Â
No inÃcio do mês, o Brasil de Fato mostrou que estados e municÃpios brasileiros convivem hoje com menor oferta para o atendimento primário da população, e que os novos editais de contratação abertos pelo Mais Médicos são insuficientes
Â
A mais recente Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), feita em parceria pelo Instituto Brasileiro de Geografia EstatÃstica (IBGE) e pelo Ministério da Saúde e divulgada ano passado, aponta uma redução no número de visitas domiciliares mensais, por agentes de saúde, antes mesmo da pandemia. Em 2019, 38,4% dos domicÃlios cadastrados receberam ao menos uma visita; em 2013, eram 47,2%.
Â
Intenção deliberada
Com discurso agressivo em relação aos profissionais cubanos, o capitão reformado nunca escondeu sua intenção de acabar com o programa Mais Médicos.
Â
Antes mesmo de sua posse, o governo de Cuba determinou o fim da parceria e o retorno dos médicos à ilha caribenha, citando como justificativa as declarações ameaçadoras do presidente eleito no Brasil.
Â
O primeiro ministro da Saúde de Bolsonaro, o ex-deputado federal Luiz Henrique Mandetta, se notabilizou em canais de extrema direita por seus discursos efusivos no Congresso Nacional contra o Mais Médicos.
Â
Em uma audiência sobre o tema, em maio de 2013, o então deputado chegou a afirmar: “Estamos em uma ditaduraâ€, ao se referir à proposta do Mais Médicos pelo governo Dilma.
Â
Para a pasta responsável pelo programa, Mandetta indicou Mayra Ribeiro, médica cearense que havia participado de um protesto contra os cubanos no Aeroporto de Fortaleza (CE), durante a gestão Dilma. “Escravos†e “volta para a senzala†eram algumas das palavras de ordem daquele ato contra os médicos estrangeiros, em sua maioria negros, segundo reportagens da época.
Â
Ribeiro, que logo receberia a alcunha de Capitã Cloroquina, integra o governo Bolsonaro até hoje e nega ter hostilizado os cubanos.
Â
O Brasil de Fato perguntou ao Ministério da Saúde quais os entraves à elaboração de editais vinculados ao Médicos pelo Brasil, e em qual etapa do processo de implementação o programa se encontra, mas não houve resposta.
Â
Fonte: Rede Brasil Atual