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 O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já tem registros de novas pesquisas eleitorais de três dos principais institutos de pesquisa: Ipec, Quaest e Datafolha voltam a divulgar novos números para o segundo turno entre esta quarta (5) e sexta-feira (7). Os três terminaram o primeiro turno questionados após os contrastes entre o resultado das urnas e parte de seus números estimados um dia antes.
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O Ipec, fundado por diretores do antigo Ibope, será o primeiro, nesta quarta, a divulgar pesquisa nacional de intenções de voto para presidente. Contratada pela TV Globo, a pesquisa foi registrada no TSE com o número de BR-02736/2022 e ouvirá 2 mil eleitores em todo paÃs em três dias – o levantamento começou na segunda-feira (3).
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Já o instituto Quaest, a pedido do banco Genial, apresenta nesta quinta-feira (6) os números de seu levantamento nacional com identificação BR-07940/2022 no TSE. A pesquisa também faz 2 mil entrevistas em três dias a partir de hoje.
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Na sexta, o Datafolha divulga o resultado de sondagens feitas a partir desta quarta-feira. Sob encomenda da empresa Folha da Manhã e da Rede Globo, o instituto divulgará pesquisa nacional para presidente. E também levantamentos especÃficos para presidente feitos nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
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Pesquisas na berlinda
As principais pesquisas eleitorais anteriores ao primeiro turno de votações acertaram e erraram. No cenário nacional, por exemplo, Ipec, Datafolha e Quaest acertaram, dentro da margem de erro, o percentual obtido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 48,4% dos votos válidos. Contudo, erraram em relação à votação dada a Jair Bolsonaro, que segundo os institutos flutuava em torno de 36%, mas cravou 43,2% no final. O governo, inclusive, em mais um ataque ao direito à informação, cogita criminalizar levantamentos que “se equivocaremâ€.
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Nas disputas nos estados, diferenças foram notáveis em São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, entre outros. Inicialmente, os institutos esclarecem que as pesquisas registram a tendência de votos em um momento especÃfico. Ou seja, os dias em que as entrevistas são feitas. Mas que fatores como a taxa de indecisos e movimentos de “onda†em redes sociais nos dias – e até mesmo horas – que antecedem a ida à s urnas podem causar diferenças.
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Além disso, o Brasil está atrasado com seu censo demográfico, o que dificulta aos institutos definir com mais precisão o tamanho de cada estrato populacional. Entre esse estratos, os por renda e religião, por exemplo.
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Para entender melhor como a defasagem no censo pode impactar nas pesquisas, em 2010 os evangélicos eram 22% da população. Contudo, de acordo com o Datafolha, em 2019 os evangélicos já representavam 30% da população.
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“É possÃvel que a campanha dentro das igrejas ou nas redes sociais direcionada aos fiéis evangélicos tenha tido um papel relevante nos resultados. Muitas pessoas ainda indecisas acabam tomando a decisão no último dia, influenciadas pelas igrejasâ€, afirmou a professora da Universidade Estadual de Iowa (EUA) Amy Erica Smith, em entrevista à BBC, sobre o desempenho dos institutos de pesquisas nas eleições brasileiras.
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Boicote às pesquisas?
Amy mencionou ainda a possibilidade de bolsonaristas terem promovido um boicote à s pesquisas eleitorais. “Bolsonaro em vários momentos pregou desconfiança em relação à s pesquisas. Isso pode ter feito com que alguns de seus eleitores não respondessem aos questionários e aos pesquisadores.â€
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O jornalista Marcelo Soares, da empresa de inteligência Data Lagom, reforça a visão de Amy. “As pesquisas só captam a opinião de quem topa responder; se há boicote tácito, o erro acaba virando uma profecia autorrealizada. E mesmo assim as dimensões dos outros candidatos, em média, não ficaram tão fora da margem de erro (…) Acho ocioso o debate quase ‘futebolÃstico’ de qual instituto errou mais. Curioso que os apoiadores de Bolsonaro nem lembrem dos erros de Brasmarket e Veritá. Institutos sérios e visados podem até ser alvo de boicote organizado, prejudicando o resultado.â€
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A diretora do Ipec Márcia Cavallari atribuiu o que considera um “erro ligeiroâ€, em parte, ao chamado “voto útil†contra Lula. “A última pesquisa divulgada na véspera da eleição mostrava que Lula poderia ganhar no primeiro turno, e de fato faltou 1,6 ponto percentual. Bolsonaro, por sua vez, teve 6 pontos a mais do que a pesquisa apontava. E analisando os resultados, houve migração dos 3 pontos de indecisos que ainda havia na véspera da eleiçãoâ€, disse em entrevista à TV Globo. Os Ãndices de Ciro Gomes e Simone Tebet também ficaram menores, mas dentro da margem de erro das pesquisas eleitorais.
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Em São Paulo, as pesquisas colocavam Fernando Haddad (PT) à frente na corrida para governador. Com TarcÃsio de Freitas (Republicanos) em segundo, se distanciando do terceiro, Rodrigo Garcia (PSDB). E viu-se uma rápida desidratação de Garcia em benefÃcio do candidato bolsonarista. “TÃnhamos dois candidatos antipetistas, e na véspera, 38% ainda não sabiam dizer espontaneamente em quem pretendiam votar. Teve uma movimentação desses eleitores para TarcÃsioâ€, afirmou a diretora do Datafolha Luciana Chong à Globo.
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“Ondas†e tendências
Chong explica que as pesquisas, mais do que tentar prever o resultado, servem de base para entender tendências. Foi o caso da Bahia. Os institutos verificaram um crescimento de Jerônimo (PT), que vinha atrás de ACM Neto (UB). O petista acabou na frente, perto de ganhar em primeiro turno. “Na Bahia, a gente já estava mostrando a tendência de crescimento do candidato Jerônimo e queda do candidato ACM Neto. Essa tendência continuou até na hora da votação lá, porque esse movimento não para na hora que a gente para de fazer a pesquisa.â€
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Uma tendência, ou “ondaâ€, bolsonarista foi percebida em muitos estados, em especial na disputa para o Senado, onde o presidente elegeu 16 das 27 cadeiras em disputa. Em Goiás, por exemplo, as pesquisas apontavam vitória de Marconi Perillo (PSDB), com 25,8%, 5 pontos à frente de seu opositor bolsonarista Wilder Morais (PL). A realidade foi exatamente oposta. “Na última pesquisa, o Bolsonaro se distanciou bem do Lula (no estado) e acabou levando os indecisos a votar nos candidatos apoiados pelo presidenteâ€, disse o diretor do Instituto Serpes, Braulio Martines, em entrevista ao jornal local O Popular.
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O CEO do instituto Quaest Felipe Nunes reforçou a relevância das pesquisas para entender os movimentos do eleitorado, muito mais do que cravar o resultado das urnas. “A gente passou a campanha inteira dizendo que pesquisa não é prognóstico (do que vai acontecer), é diagnóstico (do momento). Mas chega a eleição, as pessoas esquecem disso e cobram das pesquisas algo que elas são incapazes de fazer, que é adivinhar o que o eleitor vai fazerâ€, disse em entrevista ao UOL.
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Abstenções
Outro fator de influência nos erros das pesquisas eleitorais foi a alta abstenção. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 20,9% dos eleitores não compareceram à s urnas. Trata-se do maior Ãndice desde 1998 e equivale a 32 milhões de brasileiros que aptos a votar não o fizeram.
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Mesmo antes do primeiro turno, o cientista polÃtico Jairo Nicolau disse, em artigo publicado em sua página pessoal, que as abstenções poderiam impedir a vitória de Lula ainda no primeiro turno. Ele aponta a preferência de Lula entre pessoas de baixa renda. Justamente estas pessoas que enfrentam dificuldades em se locomover à s urnas.
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Em São Paulo, por exemplo, se a pessoa precisar de duas conduções para votar, já são quase R$ 10 só em tarifa do transporte público. “Pode ser que em 2022 a vitória seja de Lula, mas é fundamental que seus potenciais eleitores compareçam para votar. A convocação para que os eleitores de baixa escolaridade (e baixa renda) saiam de casa pode ser decisivaâ€, disse Jairo na ocasião.
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Revisão
Dado o volume de fatores capazes de comprometer a ciência estatÃstica, especialistas começam a defender a revisão das metodologias e a interpretação com cuidado dos dados daqui em diante. “Temos que relativizar os resultados das pesquisas e os institutos precisam rever suas metodologias. Elas não foram capazes de captar a força da direita no Brasil. É preciso buscar outras fontes de informaçãoâ€, disse o comentarista da GloboNews Mauro Paulino, ex-diretor do Datafolha.
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Fonte: Rede Brasil Atual