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ConsciĂȘncia Negra: expressĂ”es reforçam racismo e devem ser evitadas


21/11/2022

No Dia Nacional da ConsciĂȘncia Negra, lembrado neste domingo (20), especialistas alertam para a necessidade de se repensar o uso de termos e expressĂ”es que reforçam o racismo. HĂĄ casos em que essas palavras sĂŁo reproduzidas sem que as pessoas tenham o conhecimento histĂłrico da origem delas.

Para conscientizar sobre o tema, a Defensoria PĂșblica da Bahia lançou o DicionĂĄrio de ExpressĂ”es (Anti) Racistas, no ano passado.

“Nosso idioma foi construĂ­do sob forte influĂȘncia do perĂ­odo de escravização e muitas destas expressĂ”es seguem sendo usadas atĂ© hoje, ainda que de forma inconsciente ou nĂŁo intencional. Precisamos repensar o uso de palavras e expressĂ”es que sĂŁo frutos de uma construção racista”, destaca a publicação.

A cartilha cita expressĂ”es como “a coisa tĂĄ preta”, em que a cor preta ou negra Ă© usada em uma conotação negativa, e propĂ”e a substituição para “a situação estĂĄ difĂ­cil”.

Outro exemplo de expressĂŁo considerada racista Ă© “cabelo ruim” para designar cabelo crespo ou cacheado. A publicação tambĂ©m aponta as expressĂ”es “mercado negro, magia negra, humor negro e ovelha negra” – em que a palavra ‘negro’ representa algo pejorativo, prejudicial, ilegal. Como alternativa, propĂ”e-se o uso de mercado clandestino, lista proibida e humor ĂĄcido. 

“O racismo se revela de diversas formas em nossa sociedade. Estas microagressĂ”es, alĂ©m de reproduzirem um discurso racista, ao identificarem a negritude como marcador de inferioridade social, afetam o bem-estar de pessoas negras”, diz a cartilha.

HĂĄ outras palavras menos Ăłbvias, como “boçal”, descrita na cartilha como “referĂȘncia aos escravizados que nĂŁo sabiam falar a lĂ­ngua portuguesa”. Essa desqualificação tambĂ©m Ă© uma das formas de racismo que, segundo o linguista e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia Gabriel Nascimento, persiste nos dias atuais.

“As palavras são resultado de uma formação histórica racista. O racismo linguístico não se resume às palavras”, enfatiza.

Nascimento lembra que os negros representam mais de 50% da população brasileira. “Essa população modificou essa lĂ­ngua. Ela Ă© parte dessa lĂ­ngua porque essa lĂ­ngua Ă© dela. No entanto, quando a gente vai falar de como o Estado e as pessoas tratam as pessoas negras, normalmente a elas Ă© imposta uma falta de autoestima linguĂ­stica, como pessoas que nĂŁo sĂŁo portadoras da capacidade de falar essa lĂ­ngua de maneira orgĂąnica e politicamente, de se comunicar”, destaca.

O uso das palavras tambĂ©m Ă© uma forma de disputa, segundo Nascimento. Ele destaca a palavra “negro” aplicada a pessoas, que nĂŁo tinha equivalente na África antes da invasĂŁo europeia. “Como vocĂȘ explica um paĂ­s onde ‘negro’ seja uma palavra usada ao mesmo tempo para politizar uma população mestiça e tambĂ©m para racismo? Ao mesmo tempo que o homem preto positiva a sua narrativa  – “eu sou um homem negro” – vocĂȘ tem a presença desse homem negro sendo chamado por uma mulher branca de ‘negro fedido’”, diz, usando como exemplo o caso de racismo contra o humorista Eddy JĂșnior, ofendido por uma vizinha no condomĂ­nio onde mora na zona oeste da capital paulista em outubro de 2022.

InfluĂȘncia africana

Uma das maiores demonstraçÔes do racismo na lĂ­ngua portuguesa no Brasil Ă© a falta de estudo da influĂȘncia das lĂ­nguas africanas na formação do idioma, segundo Gabriel Nascimento –  que Ă© autor do livro Racismo LinguĂ­stico.

“O fato de a gente levar 14 anos na educação formal tentando aprender a diferença entre adjunto adnominal e complemento nominal mostra o quĂŁo colonial, o quanto de racismo linguĂ­stico a gente tem no nosso portuguĂȘs. Porque a gente nĂŁo identifica a importĂąncia das lĂ­nguas bantus [grupo Ă©tnico africano], a sua influĂȘncia nos falares do Brasil”, afirma o pesquisador.

Esses idiomas influenciaram não só com palavras que são usadas no cotidiano brasileiro, como também, de acordo com Nascimento, até na sintaxe predominante no país. Entre as palavras, o pesquisador aponta como exemplos samba, bunda, cachimbo, acalanto, dengo, quiabo, bengala.

HĂĄ ainda, segundo ele, usos comuns que na chamada norma culta acabam sendo considerados incorretos. “A gente nĂŁo sabe, por exemplo, que nas lĂ­nguas bantus, que sĂŁo lĂ­nguas extremamente prefixais, toda a informação de plural e singular entra de maneira prefixal. Nessas lĂ­nguas vocĂȘ normalmente coloca as informaçÔes de singular e plural no primeiro traço da palavra”, explica.

“Quando vocĂȘ faz a concordĂąncia em ‘as menina’, vocĂȘ apenas coloca o plural no primeiro item. Essa influĂȘncia Ă© vista normalmente no Brasil como erro. Mas ela Ă© uma influĂȘncia bantu muito legĂ­tima e vai se reproduzir em outros lugares”, exemplifica. SĂŁo elementos culturais importantes que, na visĂŁo do professor, nĂŁo tĂȘm a atenção devida. “As nossas escolas nĂŁo abordam conteĂșdos linguĂ­sticos africanos. Essa diversidade brasileira da lĂ­ngua foi ignorada pelas escolas”, afirma.

*Colaborou Daniel Mello

Edição: Juliana Andrade

 
 
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