O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve segurar o reajuste adicional do salário mÃnimo para evitar o custo extra de até R$ 7,7 bilhões, que precisaria ser acomodado mediante cortes em outras áreas. Com isso, o piso deve ser mantido em R$ 1.302.
Â
Na transição, auxiliares do presidente indicaram a possibilidade de o mÃnimo ser reajustado novamente, para R$ 1.320. Uma verba de R$ 6,8 bilhões foi reservada no Orçamento para esse fim.
Â
No fim de 2022, porém, houve um aumento significativo no número de beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), cujos pagamentos são atrelados ao salário mÃnimo.
Â
Técnicos da SOF (Secretaria de Orçamento Federal) emitiram um alerta de que, nesse novo contexto, o reajuste adicional teria impacto de mais R$ 7,7 bilhões além do valor já reservado, como revelou a Folha.
Â
O grupo favorável à manutenção do valor atual argumenta que o mÃnimo de R$ 1.302, fixado ainda no governo Jair Bolsonaro (PL), já representa um aumento real em relação ao ano passado. Por isso, a promessa de valorização é considerada cumprida por essa ala.
Â
O ganho de 1,5% foi inclusive citado em discurso do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, na reunião ministerial da última sexta-feira (6).
Â
A contrapartida polÃtica sugerida pela equipe de Lula é acelerar as discussões sobre uma polÃtica permanente de valorização do salário mÃnimo, que leve em consideração o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), além da inflação. Interlocutores afirmam que "2024 está aÃ" e a intenção é garantir novamente o aumento real.
Â
A proposta deve ser discutida em mesas de negociação com centrais sindicais para ser anunciada ainda no primeiro semestre. O anúncio do inÃcio dessas conversas será feito na próxima semana pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT).
Â
O acerto foi feito com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), embora ele não deva participar porque viajará ao Fórum Econômico Mundial em Davos, na SuÃça, que ocorre na próxima semana.
Â
Uma das ideias é garantir um reajuste real pela média de crescimento do PIB dos últimos cinco anos. Essa proposta, porém, ainda não está fechada e será debatida com os representantes dos trabalhadores.
Â
Assim como em outras medidas debatidas nas etapas iniciais do governo, o tema do salário mÃnimo opõe integrantes da ala polÃtica e da equipe econômica de Lula.
Â
O primeiro time considera o novo aumento ainda em 2023 um cartão de visitas importante do presidente para sua base eleitoral, dado que o salário mÃnimo foi um tema bastante explorado durante a campanha. Lula promete retomar a polÃtica de valorização adotada em governos do PT, com reajustes acima da inflação.
Â
Durante a campanha, chegou-se a cogitar um aumento complementar no Dia do Trabalho, em 1º de maio, ideia retomada mais recentemente pela ala polÃtica.
Â
O grupo econômico, por sua vez, defende cautela com decisões que tenham impacto considerável sobre as contas públicas. A avaliação preliminar é de que é prudente aguardar dados mais sólidos sobre a base de beneficiários do INSS para ter maior clareza dos números.
Â
Há quem veja a projeção de custo extra como elevada, com espaço para redução, mas mesmo essa ala entende que é muito arriscado tomar qualquer decisão neste momento. Além disso, mesmo deixando a porta aberta para um aumento extra ao longo do ano, técnicos consideram como mais provável que o mÃnimo fique em R$ 1.302 até o fim do ano.
Â
O assunto foi levado a Lula. O presidente ainda precisa bater o martelo, mas integrantes dos dois grupos relatam que, até aqui, ele sinalizou concordância com os argumentos da equipe econômica.
Â
Há quem lembre que Lula nunca se comprometeu publicamente com o valor de R$ 1.320, verbalizado por Wellington Dias (PT) durante as negociações da PEC (proposta de emenda à Constituição) que autorizou o aumento de gastos em 2023. Hoje, Dias é ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, pasta que não participa diretamente das discussões sobre o piso nacional.
Â
Nas discussões internas, ministros contrários ao reajuste adicional ainda em 2023 argumentam que uma avaliação da relação custo-benefÃcio recomenda a manutenção do salário mÃnimo em R$ 1302.
Â
Segundo um integrante do primeiro escalão, o aumento de apenas R$ 18 daria um bônus polÃtico limitado a Lula.
Â
Por outro lado, o impacto fiscal certamente produziria efeitos negativos sobre a confiança de investidores e, consequentemente, na recuperação da economia —sobretudo no momento em que o time econômico ainda busca convencer o mercado de que adotará medidas para reduzir o déficit de R$ 231,5 bilhões contratado para o ano.
Â
A polÃtica de salário mÃnimo afeta não só o mercado de trabalho, por ser a remuneração mÃnima dos empregados, mas também as contas públicas. Uma série de benefÃcios é vinculada ao piso.
Â
Dois terços das aposentadorias e pensões pagam um salário mÃnimo. O valor também serve de referência para o abono salarial, o seguro-desemprego e o BPC (BenefÃcio de Prestação Continuada), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda.
Â
Fonte: Folha de SP