O Dia Internacional das Mulheres, celebrado nesta quarta-feira (8), destaca as conquistas sociais e os desafios existentes no combate à desigualdade de gênero.
Â
Â
No contexto da saúde, as mulheres passam por mudanças significativas em cada fase da vida, que destacam cuidados para além da prevenção do câncer. Entre os principais estão a realização periódica de exames preventivos, principalmente contra o câncer de colo de útero e de mama, além da escolha por métodos contraceptivos, sem comprometer o bem-estar e a saúde.
Â
A realização de consultas ginecológicas permite a prevenção e o tratamento de infecções sexualmente transmissÃveis (ISTs), enquanto a priorização da saúde mental, contribui para evitar transtornos psicológicos e para combater situações de vulnerabilidade.
Â
A manutenção de um estilo saudável de vida inclui ainda a prática regular de atividades fÃsicas, uma boa conduta nutricional e o autocuidado. Algumas doenças são próprias do sexo feminino e o diagnóstico precoce é fundamental para um tratamento bem-sucedido.
Â
No Sistema Único de Saúde (SUS), a maior parte dos atendimentos se iniciam nos serviços da atenção primária, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Durante a consulta, se necessário, o médico solicita exames laboratoriais e de imagem, que também são ofertados pelo SUS. Após avaliação médica dos resultados, a paciente pode ou não ser encaminhada para atendimento especializado na rede pública.
Â
“O motivo da busca da mulher ao consultório é para fazer check-up, fazer rastreamento de algumas doenças, se preparar para engravidar. Isso tudo está dentro do contexto do cuidado com a saúde da mulher, que vai desde cuidar das doenças que são as mais prevalentes em mulheres até prevenções de doençasâ€, afirma a médica ginecologista, Raquel Autran, responsável pela divisão de gestão do cuidado da Maternidade Escola Assis Chateaubriand, em Fortaleza, no Ceará.
Â
Manter hábitos saudáveis contribui para a prevenção de doenças. Uma alimentação balanceada com frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais, aliada à uma ingestão menor de gordura, ajudam a ter uma vida mais sadia. O Ministério da Saúde recomenda dietas que priorizem alimentos in natura e a redução do consumo de ultraprocessados.
Â
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda de 150 a 300 minutos, no mÃnimo, de atividade aeróbica por semana para adultos saudáveis e uma média de 60 minutos por dia para crianças e adolescentes. Fazer uma atividade fÃsica ao menos 30 minutos por dia, manter o peso adequado à altura, diminuir o consumo de álcool e não fumar são algumas das recomendações que ajudam a prevenir doenças.
Â
“É importante se atentar para dieta e fazer sempre uma atividade fÃsica, isso começa na infância que isso é o que vai prevenir algumas doenças quando ela chegar em uma idade maior. Vale lembrar que as principais causas de mortalidade na mulher são as doenças cardiovasculares, e prevenção é praticar atividade fÃsica e fazer vistas ao profissional de saúde para avaliaçãoâ€, afirma Raquel.
Â
1. Planejamento reprodutivo
O planejamento reprodutivo é um importante recurso para a saúde das mulheres. Ele contribui para uma prática sexual mais saudável, possibilita o espaçamento dos nascimentos e a recuperação do organismo da mulher após o parto, melhorando as condições que ela tem para cuidar dos filhos e para realizar outras atividades.
Â
“Nesse ritmo de vida acelerado, não houve tempo sequer para as reflexões e questionamentos sobre a sincronia entre corpo, mente e ovários. E infelizmente, os ovários não acompanham a mulher da vida moderna. Com o passar dos anos, nossos óvulos diminuem em quantidade e em qualidade, por isso nossas chances de engravidar são cada vez menores e cada vez maior o risco de aborto associado com malformações embrionárias. Portanto, é fundamental termos a consciência de que a fertilidade feminina é finita e está extremamente atrelada a idadeâ€, afirma a médica ginecologista Ana Flávia Hostalácio, da clÃnica de saúde feminina Oya Care.
Â
Para a especialista, conhecer o próprio corpo permite estabelecer planos reprodutivos a longo prazo.
Â
“O autoconhecimento nos da autonomia para decisões. Portanto, conhecer melhor o corpo, avaliar a reserva ovariana – o famoso ‘estoque de óvulos’, e acompanhar o ritmo dessa depleção, complementa a independência que ganhamos, em partes, na década de 60 no que tange o planejamento reprodutivo. Permite ter segurança em escolher o melhor momento para a maternidade, seja pela necessidade de antecipa-la, seja pela possibilidade de poder seguir os planos, ou pela escolha em preservar a fertilidade, como congelar óvulos, e me permitir pensar sobre isso somente lá na frenteâ€, diz.
Â
A médica Raquel Autran afirma que, diante do desejo de engravidar, exames devem ser feitos para descartar doenças infecciosas.
Â
“Quando a mulher quer engravidar, precisamos principalmente afastar as doenças infecciosas. Ao chegar no consultório, ela fala do seu histórico, faz exames fÃsicos e checagens de prevenção de doenças, como diabetes gestacional, doenças da tireoide, tudo isso identificado precocemente garante uma gravidez mais seguraâ€, comentou Raquel.
Â
É importante que a mulher faça uma consulta quando antes dela iniciar um método. “Na consulta ela vai poder dizer o que quer para saber quais são os métodos mais eficazes. Vai avaliar doenças que ela possa ter, ou até mesmo na famÃlia, que possa contraindicar algum do tipo de método. O profissional de saúde poderá dar as opções para que ela possa escolherâ€, destacou Raquel.
Â
2. Saúde Ãntima
Cuidados com a higiene Ãntima são essenciais para evitar o aparecimento de infecções, inflamações e muitos outros problemas de saúde, alerta a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e ObstetrÃcia (Febrasgo). Doenças genitais comuns podem colocar em risco a vulva, vagina e colo de útero.
Â
Uma das infecções vaginais mais frequentes é a candidÃase que, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e EstatÃstica (Ibope), atinge pelo menos 52% das mulheres brasileiras, ao menos uma vez na vida.
Â
“É uma doença bem comum no ciclo feminino, em que muitas vezes as mulheres têm a infecção recorrente, até por conta da falta de conhecimento sobre cuidados com a saúde Ãntima. Mas vale o alerta que nem tudo que coça é cândida, então é recomendado que sempre que tiver a dúvida, recorra ao médico para que seja comprovado com diagnóstico clÃnico laboratorialâ€, explica a médica ginecologista Marcia Terra Cardial, vice-presidente da Comissão Especializada em Trato Genital Inferior da Febrasgo, em comunicado.
Â
Outra doença habitual na rotina feminina e pouco conhecida é a vaginose bacteriana. “Nessa doença, a mulher sente um odor forte, semelhante ao de peixe, que ocorre pelo desequilÃbrio vaginal em relação à s bactérias do bem, onde existe uma diminuição dos lactobacilos e um aumento das microrganismos que podem levar a algum tipo de infecção†explica a ginecologista.
Â
A higiene Ãntima feminina pode ajudar a evitar riscos que podem evoluir para quadros mais graves.
Â
“Indicamos as mulheres que façam higiene genital com sabonete lÃquido adequado para cada fase da vida, uso da calcinha de algodão ou seda, sempre de cor neutra no dia a dia, e sem o absorvente diário. A higiene após urinar ela deve ser sempre para trás, sempre lavar ao evacuar, papel higiênico deve ser neutro sem perfume, e também é muito importante hidratar a pele da vulva, é bem comum tratar o recenseamento de todo o corpo e esquecer de cuidar da pele da vulvaâ€, afirma a médica.
Â
3. Métodos contraceptivos
Diferentes estratégias podem ser utilizadas com o objetivo de se prevenir a gravidez, como o preservativo masculino e feminino, pÃlula combinada, anticoncepcional injetável mensal e trimestral, dispositivo intrauterino com cobre (DIU), diafragma, anticoncepção de emergência e minipÃlula. Os serviços podem ser adquiridos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Â
Especialistas afirmam que a escolha pelo melhor método deve ser feita de maneira individualizada, considerando aspectos do perfil de cada paciente, com o objetivo de tornar a prevenção mais confortável e de fácil adesão.
Â
Além de evitar a gravidez, o preservativo contribui para a prevenção das infecções sexualmente transmissÃveis (ISTs), causadas por vÃrus, bactérias ou outros microrganismos, transmitidas, principalmente, por meio do contato sexual desprotegido com uma pessoa que esteja infectada.
Â
4. Saúde mental
A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que a saúde mental feminina é afetada por seu contexto de vida ou por fatores externos, que podem ser socioculturais, econômicos, de infraestrutura ou ambientais. A identificação e a transformação desses fatores pode ser uma direção para prevenção de problemas psicológicos graves, como depressão e ansiedade.
Â
No relatório global de saúde mental de 2022, a OMS destaca que mulheres e jovens sofreram de maneira mais significativa o impacto das consequências sociais e econômicas da pandemia de Covid-19. Segundo a OMS, gênero, grupo étnico e local de residência podem afetar as chances de desenvolver uma condição de saúde mental.
Â
As mulheres tendem a ser mais desfavorecidas socioeconomicamente do que os homens e também são mais propensas a serem expostas à violência praticada pelo parceiro Ãntimo e violência sexual, que são fortes fatores de risco para uma série de condições de saúde mental, especialmente transtorno do estresse pós-traumático.
Â
Elas continuam a ser mais propensas a estar financeiramente em desvantagem devido a salários mais baixos, menos poupança e empregos menos seguros do que seus colegas do sexo masculino. Na pandemia, as mulheres também suportam grande parte do estresse em casa, especialmente quando forneciam a maior parte dos cuidados informais adicionais exigidos pelo fechamento das escolas. Uma avaliação rápida concluiu que a violência contra mulheres e meninas se intensificou no primeiro ano da pandemia, com 45% das mulheres relatando ter sofrido alguma forma de violência, direta ou indiretamente.
Â
Os transtornos depressivos e de ansiedade são cerca de 50% mais comuns entre as mulheres do que entre os homens ao longo da vida, enquanto os homens são mais propensos a ter um transtorno por uso de substâncias. Como os transtornos depressivos e de ansiedade representam a maioria dos casos de transtorno mental, no geral, um pouco mais de mulheres (13,5% ou 508 milhões) do que homens (12,5% ou 462 milhões) vivem com um transtorno mental no mundo, de acordo com o relatório da OMS.
Â
Diferentes estratégias promovem a saúde mental, incluindo a intervenção psicossocial, que possibilita o enfrentamento de questões pessoais como a ressignificação do sofrimento e a busca por redescobrir e potencializar as habilidades. O site Mapa da Saúde Mental permite a consulta de locais que oferecem o atendimento gratuito, voluntário ou com preços acessÃveis no paÃs.
Â
5. Imunização
Tradicionalmente, nos sistemas de saúde por todo o mundo, a prioridade tem sido o cuidado da mulher no campo da saúde reprodutiva, com foco na atenção ao pré-natal e parto. No entanto, outros cuidados também são importantes para a saúde integral como a prevenção dos cânceres de colo do útero e de mama e o recebimento de vacinas especÃficas.
Â
“Há várias doenças que afligem o universo feminino que são prevenidas por meio das vacinas. Mais recentemente, podemos falar da vacina do HPV, que é uma vacina muito segura e que tem reduzido drasticamente assistência de câncer de colo do útero, entre outros tumores, mas principalmente do colo uterinoâ€, afirma Raquel.
Â
A vacinação é uma opção segura e eficaz de prevenção da infecção ao HPV. O imunizante é oferecido gratuitamente pelo SUS para meninas de 9 a 14 anos, além de mulheres de 15 a 45 anos vivendo com HIV/Aids, transplantados e pacientes oncológicos.
Â
Como funciona o esquema vacinal: crianças e adolescentes de 9 a 14 anos devem receber o esquema de duas doses. Adolescentes que receberem a primeira dose dessa vacina entre 9 e 14 anos, poderão tomar a segunda dose mesmo se ultrapassados os seis meses do intervalo recomendado, para não perder a chance de completar o esquema vacinal.
Â
A médica ginecologista destaca também outras vacinas importantes para as mulheres. “Você toma vacinas quando está grávida prevenindo vÃrus que acomete mais mulheres gestantes, a vacina da hepatite B que está no calendário vacinal da mulher ele vai exatamente seguindo esse ciclo de vida delaâ€, reforçou.
Â
Fonte: CNN