
No último ano do governo de Jair Bolsonaro (2022), a renda dos trabalhadores e das trabalhadoras brasileiros caiu em relação a 2021, mais do que a média de 50 paÃses do mundo, mostra relatório divulgado no domingo (30/4), do Comitê de Oxford para AlÃvio da Fome, uma organização independente sem fins lucrativos com atuação no paÃs desde 2014. Em contrapartida os ricos ficaram ainda mais ricos.
Â
O salário médio teve queda de 6,9% enquanto o de diretores subiu 9%. Já o rendimento dos acionistas de empresas brasileiras chegou a 24% dando a eles um lucro US$ 34 bilhões, quase o mesmo montante do que trabalhadoras e trabalhadores do paÃs tiveram em cortes em seus salários, informou a entidade.
Â
Em 2021, o salário mensal médio no Brasil era de R$ 2.480,80. Em 2022, o salário foi de R$ 2.540,33 mensais, o que dá uma alta de 2,14%. No entanto, a inflação de 9% corroeu esse ganho, deixando a correção do valor real do salário no paÃs menor.
Â
O relatório confirma a desigualdade social no paÃs. No mundo a média de queda da renda do trabalhador foi de 3,19%, menos da metade da queda no Brasil. A média do rendimento dos acionistas nos paÃses pesquisados pela Oxfam foi menos da metade do que lucraram os brasileiros, de 10%. Ou seja, no Brasil o salário do pobre cai e o lucro dos ricos aumenta ainda mais do que no restante do mundo.
Â
"No Brasil, a recuperação do emprego tem se dado às custas, principalmente, de trabalho informal, mais precário, com menos acesso a direitos e renda média menor", avaliou o coordenador de justiça econômica da Oxfam Brasil, Jefferson Nascimento, em entrevista ao G1.
Â
Segundo a Oxfam, os pagamentos feitos aos acionistas, considerados "exorbitantes", beneficiam os mais ricos da sociedade, aumentando os nÃveis já altos de desigualdade.
Â
No mundo, segundo a organização, 1 bilhão de trabalhadoras e trabalhadores de 50 paÃses tiveram um corte médio de US$ 685 em seus salários em 2022. A perda coletiva foi de US$ 746 bilhões em salários reais (caso os pagamentos tivessem sido reajustados pela inflação).
Â
Tributar os mais ricos
Â
Uma das direções apontadas pela Oxfam como solução para os problemas elencados no relatório é tributar devida e proporcionalmente a parcela mais rica em todos os paÃses. A ONG lembra, por exemplo, que os impostos sobre a renda de dividendos e ações caÃram de 61%, em 1980, para 42% na atualidade, um dado relevante para a discussão, já que é a partir da cobrança desses encargos que se pode ampliar as verbas públicas em áreas como saúde e educação.
Â
Para Jefferson, essa margem de lucro entregue aos acionistas deve ser uma das partes que compõem a discussão em torno da reforma tributária, tendo em vista a possibilidade de contrapartida à sociedade que se pode abrir. Ele explica que, no Brasil, a obrigação não se aplica à pessoa fÃsica e salienta que a medida já conta com aprovação de ampla parcela da população.
Â
"É um tema que se conecta com esse debate que está se tendo no Brasil, nesse momento, no âmbito da reforma tributária. A gente está debatendo no Congresso Nacional, focando, principalmente agora, no imposto sobre o consumo. Mas, em um segundo momento, e isso tem sido dito no Congresso, se pretende trabalhar com reforma do imposto sobre bens e patrimônio, e é fundamental falar também sobre o retorno da tributação sobre lucros e dividendos", diz.
Â
Trabalho não remunerado das mulheres
Â
A conclusão é de que a jornada mensal de mulheres e meninas tem, pelo menos, 380 bilhões de horas de atividades de cuidado não remuneradas, o que prova que certos estereótipos de gênero, como a função de se responsabilizar, de forma central, pela criação dos filhos, ainda pesam sobre elas. Com frequência, assinala a Oxfam, trabalhadoras acabam encurtando seus expedientes ou mesmo abandonam os empregos por causa dessas atividades. Além disso, também enfrentam discriminação, assédio e recebem salários mais baixos do que os homens.
Â
Jefferson Nascimento, complementa as colocações da entidade com um dado relacionado ao assunto, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE), em março deste ano. Segundo o órgão, as trabalhadoras do paÃs recebem um salário 22% menor do que os trabalhadores do gênero masculino.
Â
"Até a pandemia, até 2020, havia uma tendência de diminuição da diferença de remuneração entre homens e mulheres, que foi revertida. Tem vários fatores por trás disso. A maior parte do desemprego é de mulheres, a maior taxa de trabalhadores informais é entre mulheres. A gente sabe que o trabalho informal paga, em média, menos do que o trabalho formalizado. Então, de alguma maneira, a precarização do trabalho, esses instrumentos que a incentivam, como a reforma trabalhista de 2017, criaram as condições para que houvesse esse aumento de diferença", diz Jefferson.
Â
Metodologia
Â
A organização não governamental adotou como referência dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para fazer os cálculos. Uma das constatações, que instigam a se pensar no contexto de desigualdades sociais, é o corte médio de US$ 685 na conta de um bilhão de trabalhadores de 50 paÃses, que acabaria significando uma perda coletiva de US$ 746 bilhões em salários reais, caso os salários tivessem sido reajustados pela inflação.
Â
Com informações do G1 e Agência Brasil
Â
FOTO:  ROBERTO PARIZOTTI (SAPÃO/CUTÂ
Fonte: Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha - CUT