Palestra conduzida por Daniel Sonim contou com estudantes de Medicina, Enfermagem, profissionais da saúde e público em geral (Foto: Bruna Catto)
O Auditório 3 (Pau Brasil), no campus da Unoeste Jaú, foi palco na noite dessa segunda-feira (04) da palestra intitulada “O capa-branca: as memórias do funcionário que se tornou paciente de um dos maiores hospitais psiquiátricos do Brasil”. Em formato híbrido, com parte do público presente no local e outra parte acompanhando via transmissão on-line, a abordagem foi feita pelo próprio jornalista Daniel Navarro Sonim, autor do livro que leva o nome da palestra e que reúne as memórias de Walter Farias, um ex-funcionário que se torna paciente, nos anos 1970, do Complexo Psiquiátrico do Juquery, em Franco da Rocha, na Região Metropolitana de São Paulo. A atividade foi realizada pela Liga Acadêmica de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Jaú.
A palestra contou com estudantes de Medicina, Enfermagem, profissionais da saúde e público em geral. O objetivo principal foi promover reflexões nos espectadores acerca do tema, principalmente a mudança de visão sobre as questões psiquiátricas no decorrer do tempo. A Liga Acadêmica de Psiquiatria entende que é necessário discutir a abordagem a respeito da realidade dos hospitais de internação psiquiátrica (antigos manicômios) para conhecimento de como a história se decorreu em relação ao tema, sendo possível a comparação com a atualidade.
Daniel Navarro é jornalista e viu pela primeira vez o protagonista de O Capa-Branca em um programa de TV com o tema “Sou esquisito, e daí?”. Após Walter Farias contar que sonhava colocar sua história em um livro, Daniel entrou em contato com ele e recebeu os manuscritos com suas memórias no Juquery. A partir desses manuscritos e entrevistas, o jornalista reuniu as experiências de vida de Walter Farias e lançou o livro em novembro de 2014.
Em resumo, a obra conta que ao ser aprovado no concurso público para atendente de enfermagem, Walter é designado para cuidar de pacientes acamados ou que perambulam, alheios à realidade, pelos corredores das clínicas do Hospital Psiquiátrico. A vida do protagonista de O Capa-Branca começa a tomar outro rumo depois da repentina transferência para o Manicômio Judiciário, onde ele convive com pacientes que cometeram crimes, alguns deles violentos e com requintes de crueldade.
Atividade foi realizada pela Liga Acadêmica de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Jaú (Foto: Fabiana Zaidan)
A rotina no manicômio abala sua sanidade e o obriga a abandonar sua capa branca, o jaleco que os funcionários vestiam para trabalhar. Dali em diante, a única alternativa é a internação. Ao se tornar mais um paciente do Juquery, passa a sentir na pele os horrores daquele lugar. Números oficiais dão conta de que, naquela época, o local chegou a abrigar quase o dobro das 9 mil pessoas que tinha condição de comportar.
Walter Farias vive até hoje em Franco da Rocha com sua família. É aposentado, pai de três filhas e de um filho e avô de cinco netos. Compositor, já fez mais de 400 canções nos mais variados estilos, como samba, sertanejo e MPB.