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 O mĂȘs de março dedicado Ă s mulheres em que muitos ainda acreditam que basta dar flores e bombons no 8 de março para se redimirem das suas atitudes no dia a dia, em que as colocam em posição de inferioridade intelectual, as desestimulam a crescer profissionalmente e delegam a elas as tarefas domĂ©sticas, Ă© muito mais do que receber presentes. Ă Ă©poca de luta por igualdade, direitos e justiça.
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O FĂłrum das Mulheres, do qual a CUT faz parte, elencou trĂȘs os focos de combate Ă violĂȘncia: âEducação Sem ViolĂȘncia de GĂȘnero: pela promoção de uma sociedade livre de discriminação de gĂȘnero e violĂȘncia e por um ambiente seguro e igualitĂĄrioâ;
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âDefesa da Vida: pela proteção e preservação da vida das mulheres, em todas as suas dimensĂ”es, seja no trabalho, na saĂșde, na segurança, ou em situaçÔes de risco, promovendo polĂticas e açÔes que garantam a integridade das mulheresâ e;
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âCombate ao AssĂ©dio Moral no Local de Trabalho: Por um local de trabalho decenteâÂ
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Este Ășltimo item Ă© extremamente necessĂĄrio atĂ© pelo nĂșmero de denĂșncias que o MinistĂ©rio PĂșblico do Trabalho (MPT) recebe, e a cada ano aumenta. Em 2022 foram 787 denĂșncias de violĂȘncia ou assĂ©dio sexual; quase dobrou no ano seguinte: 1.437 e atĂ© 6 de março deste ano o nĂșmero chegou a 241.
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No mesmo perĂodo o ĂłrgĂŁo recebeu 65 denĂșncias de discriminação de gĂȘnero no trabalho, o que representa uma por dia. Em todo o ano de 2023 foram 417. No ano anterior (2022), o nĂșmero foi bem menor: 269 no total.
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A vice-coordenadora nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho, a procuradora Danielle Olivares CorrĂȘa, que atua no setor hĂĄ quase 10 anos dos 15 anos em que trabalha como procuradora, conta que o combate a todo tipo de assĂ©dio no trabalho Ă© uma das atuaçÔes mais importantes do MPT. Segundo ela, as situaçÔes de assĂ©dio moral envolvem homens e mulheres, mas que 99% dos assĂ©dios sexuais as vĂtimas sĂŁo mulheres.
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âSempre existiram esses tipos de violĂȘncia, mas agora eu acho que os trabalhadores estĂŁo mais informados, eles tĂȘm uma condição melhor de identificar a situação de violĂȘncia pelas quais estĂŁo passando e sabem qual Ă© o canal de denĂșncia que podem utilizar. EntĂŁo, a gente acredita que a sensibilização social, quanto ao tema, ajuda a que entendam que eles estĂŁo passando por uma situação de assĂ©dio e recorram aos ĂłrgĂŁos competentes de fiscalização e controleâ, conta a procuradora.
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Ă a partir das denĂșncias que o ĂłrgĂŁo pode abrir um inquĂ©rito civil, e acionar a empresa pedindo que ela tome providĂȘncias por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
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âNo TAC colocamos uma sĂ©rie de obrigaçÔes de fazer, e nĂŁo fazer, da empresa para prevenir situaçÔes de assĂ©dio dentro do ambiente laboral. Por exemplo, que a empresa tenha uma gestĂŁo voltada ao combate Ă prĂĄtica de toda forma de violĂȘncia e assĂ©dio, treinamentos com funcionĂĄrios para eles identificarem essa situação, criação de canais de denĂșncias internos dentro da empresa, em que se assegure o sigilo do denunciante; que de fato esse canal leve a um comitĂȘ gestor que possa fazer uma investigação e dar uma solução adequada para cada caso. A empresa que decide a penalidade ao assediador que pode ser, demissĂŁo, advertĂȘncia ou suspensĂŁo. O que o MPT exige Ă© que a empresa crie uma polĂtica de combate a toda forma de violĂȘncia e assĂ©dioâ, explica Danielle.
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A procuradora cita como exemplos de assĂ©dio, que muitas vezes o trabalhador nĂŁo identifica, as metas inalcançåveis e que ele pode fazer o trabalhador se sentir incompetente e atĂ© adoece por nĂŁo conseguir atingi-las.Â
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âSĂŁo formas de assĂ©dio que precisam ser identificadas, e o trabalhador muitas vezes Ă© nĂŁo faz a denĂșncia por medo de perder o emprego mesmo, mas o MPT recebe todo tipo de denĂșncia, inclusive, a anĂŽnimaâ, diz Danielle.
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Ela recomenda que ao fazer a denĂșncia o trabalhador coloque todos os fatos ocorridos com o maior detalhamento possĂvel; o setor que ocorreu; nomes dos assediadores, datas e a postura da empresa diante do fato.
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âOs entes sindicais tĂȘm um papel muito importante nesse sentido de tambĂ©m colher essas denĂșncias e ajudar nas investigaçÔes para que a gente possa trabalhar em conjunto no combate a esse tipo de prĂĄticaâ, afirma.
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Convenção NÂș 190 da OIT
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A Organização Mundial do Trabalho (OIT), estabeleceu novas normas globais com o objetivo de acabar com a violĂȘncia e o assĂ©dio no mundo do trabalho. A Convenção de nÂș 190 da OIT Ă© o primeiro tratado internacional a reconhecer o direito de todas as pessoas a um mundo de trabalho livre de violĂȘncia e assĂ©dio, incluindo violĂȘncia e assĂ©dio com base em gĂȘnero.Â
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O Governo Lula (PT), enviou em março do ano passado, Ă CĂąmara dos Deputados o texto da Convenção 190 sobre a Eliminação da ViolĂȘncia e do AssĂ©dio no Mundo do Trabalho (MSC 86/23). O tratado sĂł entra em vigor no Brasil apĂłs aprovação pelas duas Casas do Congresso Nacional. No entanto, a convenção ainda nĂŁo foi aprovada.
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Para a secretĂĄria da Secretaria da Mulher Trabalhadora da CUT Nacional, Amanda Corcino. a lei sĂł nĂŁo foi aprovada porque temos um Congresso muito conservador.
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âĂ preciso tramitar para que vire uma lei de fato, e a gente possa resguardar os trabalhadores e as trabalhadoras, principalmente da violĂȘncia e do assĂ©dio dentro do ambiente de trabalho, para que nĂŁo escale para outros tipos de violĂȘncia tambĂ©m. Mas, infelizmente para o nosso Congresso isso nĂŁo Ă© prioridadeâ, lamenta a dirigente.
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Empoderamento
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A procuradora do MPT defende que as mulheres precisam se empoderar no sentido de nĂŁo admitir nenhuma forma de desrespeito no ambiente de trabalho, e que elas podem fazer a denĂșncia para que o caso serĂĄ investigado porque o respeito interpessoal, respeito pela mulher, ele tem que existir em todo lugar. Muito ainda mais dentro de uma empresa, onde a pessoa estĂĄ trabalhando, estĂĄ produzindo. Ela precisa ser respeitada como profissional e nĂŁo ser vista como um objeto.
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âA discriminação contra a mulher precisa ser combatida de todas as formas. Ă muito importante que quando a mulher se se veja numa situação em que ela, a intimidade dela, por algum motivo foi violada por conta de uma situação abusiva, de assĂ©dio sexual, ela tem sim que fazer essa denĂșncia porque Ă© atravĂ©s desse tipo de atitude que a gente vai combater esse tipo de prĂĄticaâ, diz.
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Meu recado Ă s mulheres Ă© para que elas se empoderem e denunciem quando se virem numa situação de violĂȘncia e de afeto- Danielle Olivares CorrĂȘa
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Fonte:Â Rosely Rocha- CUT / Foto: Roberto Parizotti - 20/03/2024