
Sou Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores do Brasil. Trago comigo a voz de milhões de trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, representados por seis centrais sindicais nacionais, e o compromisso inabalável com a dignidade, a justiça social e a democracia.
Hoje, mais do que debater políticas, estamos aqui para reafirmar que o trabalho é o alicerce da dignidade humana. É o trabalho que constrói economias, sustenta famílias, gera conhecimento e move o mundo. Mas é também o trabalho que, ainda hoje, é exercido sob condições indignas, desvalorizado e ameaçado por profundas transformações.
Vivemos uma transição histórica. A digitalização, a automação e a inteligência artificial remodelam o mundo do trabalho em ritmo acelerado. Essas inovações podem ampliar oportunidades, mas, sem uma regulação justa, aprofundam desigualdades e precarizam relações. O trabalho em plataformas digitais, por exemplo, não pode ser sinônimo de desumanização. É urgente garantir direitos básicos: jornada digna, remuneração justa, proteção social, direito à organização sindical e à negociação coletiva.
A Conferência deste ano, ao debater o trabalho decente na economia de plataformas e a transição da informalidade para a formalidade, nos convoca à inovação e à coragem. Precisamos de sindicatos que incorporem tecnologia, aprimorem sua comunicação e ampliem sua capacidade de representação, especialmente junto aos jovens e aos mais vulneráveis. Para avançarmos na construção de uma normativa internacional para a regulamentação do trabalho em plataformas, é fundamental que as bancadas e os Estados Membros mantenham o compromisso de dialogar e construir consensos que garantam proteção e dignidade a todos os trabalhadores.
A crise climática, por sua vez, exige uma transição ecológica justa. Não há justiça ambiental sem justiça social. Às vésperas da COP 30, que acontecerá no Brasil, temos a oportunidade histórica de transformar compromissos globais em ações concretas, garantindo que a transição só será justa se incluir os trabalhadores desde o início, com políticas de requalificação, proteção e diálogo social efetivo.
É inaceitável, em pleno século XXI, conviver com trabalho forçado, o trabalho infantil, a discriminação, a informalidade extrema e a desigualdade de gênero. As mulheres seguem enfrentando múltiplos obstáculos e, por isso, a ratificação e implementação da Convenção 190 da OIT deve ser prioridade global. Valorizar o trabalho das mulheres é questão de justiça, desenvolvimento e democracia.
A OIT, com sua natureza tripartite, é exemplo de diálogo social. Mas é preciso garantir que a voz dos trabalhadores seja efetivamente considerada na construção das políticas internacionais. Reivindicamos o fortalecimento da negociação coletiva, a proteção aos direitos trabalhistas, a valorização dos sindicatos e o combate à perseguição de representantes dos trabalhadores.
No Brasil, protagonizamos uma luta histórica pela redução da jornada de trabalho, combatendo o arcaico regime 6x1, que submete milhões de pessoas a uma rotina exaustiva e desumana. Reduzir a jornada não é apenas uma questão de saúde e bem-estar, mas também de justiça social e dignidade. É uma pauta que une trabalhadores, sindicatos e sociedade em busca de um futuro mais humano e equilibrado.
O governo do presidente Lula tem resgatado o protagonismo dos trabalhadores, promovendo o diálogo social e a valorização do trabalho digno.
Permitam-me, neste momento de perdas recentes, homenagear duas vozes fundamentais da nossa era. Papa Francisco, que nos deixou este ano, nos lembrou que os sindicatos são chamados a dar voz a quem não tem, a defender os mais frágeis e a manter viva a chama da solidariedade. E Pepe Mujica, símbolo da luta por justiça social, sempre afirmou que a dignidade do trabalhador é insubstituível, mesmo diante dos avanços da automação.
Companheiros e companheiras, o progresso econômico precisa caminhar junto com o progresso social. O lucro não pode estar acima da vida. A tecnologia não pode estar acima da ética. O futuro do trabalho deve ser construído com justiça, equidade e solidariedade.
Neste momento histórico, temos a responsabilidade de honrar aqueles que vieram antes de nós e de abrir caminhos para quem virá depois. Que a memória de Papa Francisco e Pepe Mujica inspire cada decisão tomada nesta Conferência. Que possamos, juntos, transformar indignação em ação, medo em coragem, e desafios em oportunidades de justiça e solidariedade.
Sigamos firmes, de mãos dadas, para que nenhum trabalhador seja invisível e nenhum direito seja negado. Que de cada voz e cada voto, nasça um novo tempo de respeito, inclusão e esperança para todos.
Fonte: UGT