Especialista fala de prevenção de acidentes e garante que 80% das CIPAs não funcionam ou só cumprem obrigações protocolares
“O ideal é termos um ambiente em que o trabalhador da saúde não adoeça. Não é natural adoecer no ambiente de trabalho.” A frase é de Pedro Alberto Tolentino, diretor de assuntos parlamentares da Federação dos Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo, secretário-geral do Sinsaúde de Campinas, diretor do Escritório Estadual do Dieese e um dos maiores conhecedores de segurança e norma de trabalho.
Ele fez palestra dia 18 de fevereiro a funcionários do Hospital Nossa Senhora da Piedade, em Lençóis Paulista, abordando a importância de ter uma CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). A palestra foi uma parceria entre o Sindsaúde de Jaú e Região e pode ser levada a outras cidades, informa a presidente do sindicato, Edna Alves.
Tolentino diz que o Sindsaúde está capacitado a colaborar com hospitais e empresas para investir na prevenção do adoecimento do trabalhador. É nesse aspecto que a CIPA precisa ser atuante e organizada, envolver todos os trabalhadores, fazer um planejamento estratégico e analisar com os gestores o que pode ser feito para melhorar a segurança a curto, médio e longo prazo.
“Num hospital os riscos de acidentes e doenças estão em todos os lugares. É uma mini-usina de problemas”, alerta o especialista, citando riscos mecânicos, químicos, biológicos, o fato de trabalhar em ambientes confinados e na altura, entre outros.
As questões que fazem parte dos trabalhos de uma CIPA e a necessidade de "ressuscitar" essas comissões nos hospitais são abordadas nas palestras de Pedro Tolentino. “Todo dia é preciso pensar em segurança” e “agir para transformar os problemas do hospital em soluções”.
Ele completa, afirmando que para a prevenção funcionar num hospital é preciso o envolvimento e o comprometimento dos trabalhadores. “Vocês conhecem o setor onde trabalham, sabem onde está o problema e sabem também qual é a solução”.
E, para funcionar, do lado da gestão hospitalar, é fundamental o envolvimento dos setores estratégicos – serviço de controle de doenças hospitalares, diretoria clínica, administração e gestão de recursos humanos. Em que pese o gestor sempre encarar as CIPAs como um custo a mais e uma fonte de contratempos. Pensamento este considerado ultrapassado, garante o especialista.
As empresas, segundo Pedro Tolentino, precisam valorizar suas comissões internas porque investir em segurança é se precaver de passivos trabalhistas futuros. Ele lembra que a Previdência Social adotou a prática de cobrar das empresas o pagamento das despesas com afastamento por doenças do trabalho.
Pedro Toletino orienta aos cipeiros ligados a estabelecimentos de saúde é que avaliem o ano de trabalho, verifiquem os acidentes ocorridos e descubra as causas e como evitá-los. Aliado a isso, ele sugere elaborar um planejamento estratégico para o ano seguinte, com as melhorias possíveis no ambiente de trabalho para curto, médio e longo prazos. E façam a pergunta: “O que eu e o hospital precisamos fazer para ter mais segurança no ambiente de trabalho?”
“A CIPA é dos trabalhadores, mas estamos jogando pela janela”, lamenta, citando que em 80% dos hospitais essas comissões não funcionam ou só funcionam de forma protocolar, com um vai e vem de papel sem reflexo na segurança de fato.
Tolentino diz que as CIPAs precisam ser “ressuscitadas” e que o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde precisa ajudar a resgatar as CIPAs. “É papel do sindicato colaborar, cobrar e fazer com que funcionem de dentro para fora”. Ele recomenda o envolvimento da entidade sindical e a prática da educação continuada nos hospitais.
A educação continuada consiste em oferecer capacitação e palestras aos funcionários. “Precisa resgatar o papel da CIPA, que é de fazer prevenção e não discutir o acidente”. O sindicato, diz ele, é parceiro do estabelecimento de saúde e está capacitado para fazer a prevenção e saúde do trabalhador.
E desde sempre é preciso pensar na SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes), discutindo a segurança interna, os problemas existentes e as possíveis soluções. Também deve programar os temas e palestras que contribuam com o despertar da consciência do trabalhador para buscar um ambiente seguro.
Confira aqui as fotos da palestra